"Todo mundo sabe que futebol arte é coisa de viado".
Com essa frase Eduardo Bueno inicia seu livro sobre o Grêmio, que divide com o Inter o posto de principal time do Rio Grande do Sul. O futebol gaúcho é tradicionalmente conhecido pela sua "pegada" e nesse aspecto a equipe gremista nunca deixou de ser um típico representante de sua terra.
Ironia é o melhor jogador do mundo ter sido revelado no Grêmio. Ronaldinho Gaúcho é, atualmente, o maior representante do futebol arte. Do futebol samba. Do futebol brasileiro.
E é justamente esse futebol que levamos para a Copa da Alemanha. A partir do momento que a equipe é formada com o famoso "quadrado mágico", nota-se que a vocação é realmente o ataque. E, sendo esse quadrado composto por jogadores do naipe de Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Adriano e Ronaldo, conclui-se que além de atacar, a seleção tem de tudo para fazer isso com estilo.
Mas o que me preocupa é o fato de que as duas últimas conquistas brasileiras em Copas do Mundo ocorreram com um time montado em função da marcação. Era assim em 1994, quando Parreira chegou a armar um time com três volantes. Em 2002, a equipe comandada pelo gaúcho Felipão jogou em um 3-5-2. Dessa forma, as subidas de Roberto Carlos e Cafú ao ataque eram cobertas pelos zagueiros e volantes, permitindo um time equilibrado em campo.
Será o "quadrado mágico" o maior ponto fraco do Brasil? Sim e não. E a resposta depende da atitude dos jogadores em campo. Jogar com quatro jogadores de forte vocação ofensiva implica em sobrecarga na marcação SE os membros desse quadrado não ajudarem a defesa. Kaká faz isso no Milan e Ronaldinho Gaúcho terá que fazer também. Em contrapartida, acumular funções de ataque e defesa pode resultar em um desgaste físico maior. E, na minha opinião, aí que mora o perigo.
Por outro lado, o fato de manter quatro jogadores de talento indiscutível (e ainda tem o Robinho no banco) em campo, que sozinhos podem decidir qualquer jogo, deixa qualquer treinador adversário de cabelo em pé. A conseqüência é que, mesmo que não ajudem na marcação, os membros do quadrado segurarão alguns jogadores com eles, evitando que o time adversário saia em bloco para o ataque.
Caso a seleção vença a Copa, será a primeira vez desde 1970 que o Brasil é campeão jogando com uma seleção ofensiva. Vale lembrar que essa filosofia não deu certo em 1982.
Fica então a dúvida: a seleção do quadrado está mais para 70 ou para 82?